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Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

Um estudo de 2023 de investigadores do BCE[1] sobre operações de crédito realizadas por bancos na Zona Euro entre 2018 e 2022, observa que o crédito concedido por esses bancos, já diferencia as empresas consoante os seus riscos ambientais, em duas vertentes:

  • o risco atual, medido pelo setor de atividade da empresa e pelas emissões de gases de efeitos de estufa (GEE) associadas a esse setor

  • o risco futuro, medido pela existência, ou sua ausência, de metas de descarbonização por parte das empresas.


Concretizando, os bancos analisados cobram um juro mais elevado/baixo às empresas em setores com maior/menor pegada carbónica. A diferença de juro cobrado entre setores tem um valor médio de 14 pontos base (pb; uma centésima de ponto percentual), com um mínimo de 5 pb e um máximo de 24 pb.

 


Figura 1: juros cobrados a empresas com baixas/altas emissões de carbono (fonte BCE)

Adicionalmente, os bancos cobram um juro mais baixo às empresas que se comprometam com metas futuras de descarbonização, comparativamente com as empresas que não apresentem compromissos. A diferença de juro cobrado tem um valor médio de 20 pb, com um mínimo de 13 pb e um máximo de 26 pb.



Figura 2: juros cobrados a empresas com/sem metas de descarbonização (fonte BCE)

Este estudo permite inferir algumas observações importantes para as empresas, nomeadamente as PME, na forma como encaram a sustentabilidade e como a banca pode ser um fator crucial na sua jornada.


  • Em primeiro lugar, a diferenciação que a banca faz entre as empresas, não é nova nem consequência da atual regulação de sustentabilidade. Resulta de uma análise aprofundada dos riscos percecionados, consoante a empresa esteja em setores expostos à necessidade de transição

  • Contudo, esta diferenciação poderá acentuar-se nos próximos anos com a necessidade da banca calcular e divulgar a proporção de crédito concedido a atividades sustentáveis. O Green Asset Ratio (GAR) é um forte incentivo à banca diferenciar entre atividades sustentáveis ou não, e quando for incorporado nos rácios prudenciais da banca, terá um impacto direto no pricing do crédito

  • Para as empresas com atividade num setor de emissões intensas em GEE, caso nada façam, tenderão a ter custos de financiamento superiores a outros setores, implicando menor atratividade dos investidores. Isto poderá ser um incentivo a essas empresas alterarem o seu funcionamento, incluindo adoção de tecnologias mais eficientes que diminuam as suas emissões.

  • Se essas empresas se comprometerem publicamente com essas alterações de funcionamento, de uma forma estruturada e verificável, a banca e os restantes financiadores poderão fazer um juízo informado sobre a trajetória dessa empresa, melhor aferir o seu risco futuro e eventualmente aceitar um juro mais baixo.

 

O leitor poderá achar que uma diferença de 14 ou 20 pb é coisa pequena e que não merece perder tempo. Mas multiplique este acréscimo de spread – porque é disso que se trata – ao juro pago pela sua empresa ao banco. Por cada milhão de euros de crédito, estamos a falar de 1.400€ a 2.000€. Se o leitor for um diretor financeiro, sabe que é um número que já mexe o ponteiro.


Além disso, este spread poderá aumentar no futuro – ou reduzir-se – consoante a empresa saiba preparar-se para a jornada da sustentabilidade, correspondendo às expetativas dos financiadores e especialmente da banca. Ou seja, está nas mãos da empresa atuar desde já, e indiretamente, melhorar as suas condições negociais com os financiadores. E de certa forma, essa melhoria de condições quantifica o pricing da sustentabilidade.




[1] Climate Risk, Bank Lending and Monetary Policy (Altavilla, C,; Boucinha, M.; Pagano, M.; Polo, A.)


Pedro Wilton | Diretor, Systemic



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